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Avaliação Psicológica e Neuropsicológica de crianças e adolescentes, Orientações a pais

“Todos nós temos uma força de vida que nos impulsiona à criatividade, ao aprendizado, ao trabalho, ao estabelecimento de bons vínculos uns com os outros e ao enfrentamento de dificuldades. Em alguns momentos da vida, porém, podemos passar por situações de maior fragilidade emocional ou mesmo por momentos de crises. Nessas situações, o vínculo terapêutico poderá ajudar no restabelecimento do equilíbrio emocional”

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Conflitos emocionais na gestação e no pós-parto

Esperar pelo nascimento de um bebê costuma ser a alegria de toda a família. Até naquelas situações em que a gravidez veio de repente, dando um susto na mamãe, papai e avós, a chegada de uma criança geralmente reaviva a esperança de todos. E em muitos casos a gestação é amplamente planejada e meticulosamente cuidada. O pré-natal ocupa a mente da mãe com exames cada vez mais meticulosos. Pode-se agendar o parto, tudo dentro de uma aparente tranqüilidade e estabilidade. Nada poderá atrapalhar os meses de felicidade que se espera após o nascimento do filho que está por vir. Dificuldades? Espera-se apenas por algumas noites mal dormidas, pelo choro do bebê, as dores causadas pelas cólicas e as fraldas espalhadas pela casa, que diminuem com o tempo, sendo aos poucos substituídas pelas mamadeiras de suco, a primeira papinha, os primeiros sorrisos, as primeiras gargalhadas.
Mas nem sempre é assim. Às vezes percebe-se que alguma coisa não está bem. E isso não estava nos planos. Se tudo foi tão planejado e esperado, por que a mãe está tão triste? Por que chora tanto? Às vezes não quer cuidar do bebê, sentindo-se impotente para isso; outras vezes fica obsessivamente apreensiva e preocupada e não deixa ninguém chegar perto da criança. Os momentos que deveriam ser de alegria tornam-se de apreensão e de preocupação. A família quer ajudar, mas geralmente não está preparada para isso, e acaba, mesmo sem perceber, fazendo cobranças para a mãe, que sofre ainda mais, pois percebe que está sendo julgada.
Em uma sociedade que cobra cada vez mais da mulher, que precisa ser eficiente em tudo, fica difícil desmistificar a idéia do instinto materno. Cobra-se das mulheres a absoluta auto-suficiência quando o assunto é ser mãe. Dificuldades emocionais na gravidez e futuramente, no puerpério (pós-parto), geram preconceitos, e é muito difícil para a mãe assumir que está tendo dificuldades para aceitar e conviver com essa fase de sua vida.
Longe de ser apenas um paraíso, a gravidez e o pós-parto são ricos de emoções intensas e contraditórias, nem sempre reconhecidas pelas mulheres. O amor, a alegria e a esperança podem conviver com o medo, a culpa, a ansiedade e a tristeza. Reconhecer e aceitar esses sentimentos, que são normais nessas fases, é essencial para preservar a saúde da mãe e do bebê.
Uma gestação pode propiciar mudanças intensas no mundo psíquico da mulher. Assim como a adolescência e o climatério (menopausa), é uma fase caracterizada por intensas transformações biológicas e emocionais. Ao ser mãe, a mulher muda seu papel social e familiar, mas nem sempre ela está pronta para essas mudanças. E o pior é que, sentindo culpa e com medo
de críticas, a gestante ou a mãe sofre sozinha, achando que é somente ela que tem dificuldades com a questão da maternidade.
Ela pode também sentir-se bastante assustada diante de seus sentimentos, já que geralmente o assunto depressão pós-parto surge na mídia na sua possível versão mais dramática possível: quando a mãe não resiste ao sofrimento emocional e maltrata o seu próprio filho.
Durante a gestação a mulher pode ter dúvidas em relação à sua capacidade materna, pode ter medo de morrer no parto, de abortar ou de estar gerando uma criança defeituosa. Pode ficar ansiosa se vai conseguir amamentar o bebê, e também pode ficar preocupada com a sua imagem corporal, e ter receio de não conseguir recuperar a forma de seu corpo.
O que as mulheres geralmente não sabem é que tudo isso, embora difícil, pode ser considerado normal. É normal a ambivalência dos sentimentos: querer e não querer o bebê (principalmente nos primeiros meses de gestação), gostar e não gostar de estar grávida, querer que ele nasça logo, mas ao mesmo tempo recear pelo momento do nascimento. Essa polaridade dos sentimentos, e geralmente com a negação dela, geram os conflitos emocionais, e podem culminar, por exemplo, em depressão pós-parto, com conseqüências graves para a saúde psíquica da mãe e para o seu vínculo com o bebê.
O pós-parto abrange o período de cerca de quarenta dias após o parto e é um período muito intenso de sentimentos. Há bastante euforia e alívio por ter passado pela experiência do parto e ter visto o filho nascer saudável, pode-se ter medo de não ser capaz de cuidar bem do bebê e não conseguir ser para ele uma boa mãe e também é possível os pais sentirem decepção com o filho recém-nascido, pelo fato de ser diferente do que se esperava – o filho imaginado e desejado é substituído pelo filho real.
Mas como reconhecer a depressão pós-parto e saber quando buscar ajuda?
No pós-parto podem ocorrer três situações: uma tristeza passageira chamada baby-blues, a depressão pós-parto e um estado mais intenso e mais grave, a psicose puerperal.
A situação mais comum é o baby-blues, que se inicia na primeira semana após o parto e pode durar de poucas horas a poucos dias, geralmente desaparecendo no primeiro mês. É uma situação comum, caracterizado por choro, humor instável e depressivo e ansiedade da mãe. O baby blues não deixa seqüelas negativas, geralmente se resolve pós si só e atinge a maioria das mulheres no pós-parto – entre 70 a 90% delas.
Até mesmo as mulheres que adotam filhos passam por esse período, portanto, não é apenas hormonal. O blues-puerperal pode ser considerado um modo de comunicação entre a mãe e o bebê. Acredita-se que seja o recém-nascido que desencadeia o baby-blues na mãe, como via de
comunicação com ela, e se essa tentativa de comunicação fracassar, todo o corpo dele passará a ser lugar da linguagem, via seus sintomas, como por exemplo, as cólicas do bebê, as dificuldades para dormir, a recusa da alimentação.
Já o diagnóstico da depressão pós-parto usualmente requer que a mulher apresente alterações de humor e também alteração de outros sintomas, como o sono, apetite, distúrbios psicomotores, fadiga e idéias suicidas. É um episódio depressivo que atinge aproximadamente 10 a 15% das mulheres que têm filhos, inicia-se geralmente entre a quarta e a oitava semana após o parto, mas os sintomas podem surgir em algum outro momento do primeiro ano de vida do bebê e podem durar por vários meses. É uma situação que traz muitas conseqüências, e a primeira delas é o próprio sofrimento da mulher, seguida das evidências crescentes que a depressão materna influencia negativamente o relacionamento mãe-bebê e o desenvolvimento cognitivo e social da criança
Se o baby-blue não traz consequências sérias, no outro extremo de gravidade está a psicose puerperal, que é um distúrbio psiquiátrico severo e raro, atingindo duas em cada 1000 parturientes, no qual junto aos sintomas depressivos acrescentam-se as ilusões e alucinações e as funções maternas são seriamente prejudicadas. E se o baby-blues resolve-se por si, a depressão pós-parto e a psicose puerperal não. Nesses casos, as mulheres precisam se desvencilhar do mito da eterna heroína e da mãe toda poderosa que sempre cuida de todos, para buscar ajuda profissional e ser, por sua vez, cuidada. A família, e dentro dela, o pai, pode ajudar bastante ao perceber a fragilidade emocional da gestante ou da mulher com o novo bebê e lhe dar a devida atenção e cuidado. Deve lembrar que após o parto ela merece tanta atenção quanto antes e deixar de lado críticas e cobranças diante de sua instabilidade e dificuldades emocionais.
Mesmo nos casos em que a mãe esteja muito bem e também cuidando de modo tranqüilo do bebê, ela precisa ter alguém que possa lhe servir de apoio, já que ela também está em um momento emocional bastante regredido. E se essa regressão emocional é o que permite a mãe atender às solicitações do filho, entender as suas necessidades, adequar o seu ritmo de sono ao dele e estar sempre pronta e sempre alerta para socorrê-lo, ela também precisa de quem lhe cuide, de quem lhe garanta conforto, proteção e harmonia nessa fase tão sensível e peculiar de sua vida.

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