Do que nós temos medo?
Eles mudam muito (ou não!) ao longo da vida!
A vida é sempre cheia de aprendizados e desafios – ao longo dela fazemos vínculos com a família, amigos e com a sociedade. Aprendemos muito – desde coisas que nem nos damos conta do processo – como a andar, falar, brincar, e com situações que geralmente precisam mais de atenção, como o aprendizado da escrita, leitura, cálculos.
Aprendemos a ficar
sozinhos, a fazer novos amigos, a fazer provas, testes, a lidar com os
diferentes grupos de amigos.
Aprendemos a nos adaptar
às diferentes situações da vida desde o berço até a velhice. Família. Estudo.
Trabalho. Saúde. É certo que a vida normalmente traz muitos sentimentos de
felicidade, alegria, satisfação. Mas não só de prazeres é feita essa caminhada.
Sentimentos de insegurança, aflição, medo, tristeza também podem acompanhar os
diferentes momentos ao longo da vida. Esses sentimentos que provocam angústia e
que nos são difíceis de sentir, pois causam desprazer, desconforto, são normais
– algumas vezes nos ajudam a ser mais prudentes, mais reflexivos, mas se eles
nos paralisam e nos fazem sofrer em excesso eles merecem uma atenção especial –
eles precisam ser mais explorados, elucidados, compreendidos, para que o seu
impacto não seja muito negativo em nossas vidas.
Os medos mais comuns
estão, claro, associado aos desafios que cada idade nos traz. Enquanto
amadurecemos, vamos, simultaneamente, nos inquietando, às vezes mais, às vezes
menos, até nos acomodarmos, com segurança, a uma nova situação que antes
era totalmente estranha para nós.
Desconsiderando os
excessos, ou seja, aqueles grandes sofrimentos, as aflições e situações
difíceis de serem aliviadas, vamos colocar primeiramente quais os medos
que podemos considerar comuns na nossa vida – e os desafios a que eles estão
relacionados. Para isso, vou usar conceitos de Eric Ericson – que, a a partir
da Teoria do Desenvolvimento Psicosexual de Freud (o desenvolvimento da libido
nas fases oral, anal, fálica latência e genital), escreveu sobre o que chamou
de crises psicossociais – relacionando às difentes fases do desenvolvimento da
libido a interação do indivíduo com a sociedade.
É claro que essas
divisões nãos são rígidas, e a cada desafio e medos relacionados a eles em uma
fase da vida são somados os medos que não foram elaborados das fases
anteriores. Assim, podemos sim ser adultos sentindo os medos que começamos a
sentir quando crianças, só que agora vivendo situações diferentes.
Nesse texto vamos
explorar um pouco os medos das crianças. E para um próximo falaremos mais sobre
os adolescentes e os adultos.
A fase oral descrita por Freud Ericson chama de Modalidade oral sensorial e está relacionada à Crise psicossocial confiança básica versus desconfiança.
Nessa fase inicial da
vida, do nascimento até mais ou menos dois anos, quando os vínculos entre a mãe
(ou quem faz a função materna) e o bebê são muito fortes, a mãe e o bebê formam
uma díade, o bebê parte de uma estado de absoluta dependência da mãe, até mais
ou menos os seis meses, e caminha para um dependência relativa, o grande
desafio dessa dupla é a conseguir se separar – o bebê sofre, então, se fica
sozinho, tem medo de não ser atendido, de ser abandonado. Pela relação com a
mãe ele aprende a ter confiança no outro. A mãe o ajuda a perceber que
ela sai mas que ela volta, que ele pede, espera, e ela o atende. Por isso mesmo
é uma fase tão importante da vida – a pessoa aprende a ter confiança no mundo,
aprende a poder contar com o outro, a pedir ajuda, a esperar por ajuda e achar
normal poder ser ajudado. Uma relação marcada por sofrimento em excesso – um
bebê que é negligenciado, que é maltratado, pode sentir o medo de não ser
querido, de não poder contar com pessoas, ou seja, a pessoa, desde bebê, perde
a confiança no outro, não só nessa fase, mas ao longe de toda a sua vida. É
também comum as crianças dessa idade terem medo de situações que tragam excesso
à sensorialidade: barulhos fortes, lugares agitados. A partir de mais menos
oito meses podem começar a estranhar desconhecidos e querer sempre serem
cuidados por pessoas de sua confiança apenas.
A seguir, a fase anal, que vai até mais ou menos os quatro anos. Eric Ericson a chama Modalidade Locomotora-genital e está relacionada à Crise psicossocial autonomia versus vergonha e dúvida. Nessa fase as crianças já começaram a andar, a falar, podem começar a construir diálogos, a comer sozinhas. É importante estimulá-las à autonomia, e não criticá-las nessa fase de experimentações, deixá-las sem se preocupar excessivamente com a limpeza na hora das refeições. É uma fase muito importante pois começam também a tirar as fraldas – e é essencial que não se sintam envergonhadas ou criticadas nesse processo. Nessa fase em que a criança começa a interagir de uma forma mais ativa ela pode ter muitas dúvidas sobre como agir, do que os adultos esperam dela. Muitas vezes é estimulada a atitudes em algumas situações e impedidas de terem as mesmas atitudes em outras – A inconstância e a incoerência no cuidado com as crianças podem deixá-las confusas, inseguras, sentindo-se impedidas de serem criativas por terem medo de serem criticadas e expostas.
A fase fálica, que vai aproximadamente dos quatro aos seis anos, também está para Ericson na Modalidade locomotora-genital e se relaciona à Crise Psicossocial iniciativa versus culpa. É nessa fase que a criança vive mais intensamente o que ela quer mas não pode ter, o que ela deseja fazer mas é impedida por alguém. É uma fase em que o mundo se apresenta cheio de oportunidades, e a criança precisa aprender a abdicar do seu desejos, pois eles desejos são então limitados pelo outro, pelo pai, pela mãe, por outras figuras de autoridades, pelas regras da sociedade. Dependendo de como ela reagir em relação a esses impedimentos ela poderá se sentir culpada. Nessa fase em que a criança pode ser bastante agressiva ela também tem medo de ser machuda, de perder o seu lugar junto aos pais, pode sentir ciúmes e ter medo de ser rejeitado, de não ser aceito justamente porque já conhece o quanto pode ela também machucar o outro.
A fase de latência tem relação com Crise Psicossocial produção versus inferioridade. Nessa idade é intensa a energia canalizada para o desenvolvimento do aprendizado, a fase escolar formal de inicia e a criança passa alguns anos incorporando uma grande quantidade de conteúdos e desenvolve muitas habilidades cognitivas. Diante desse desafio, a criança tem medo de fracassar. Tem medo de ir mal nas provas, de não conseguir responder ao que os pais e professores esperam dela. Da mesma forma que nas anteriores, a forma como suas facilidades e dificuldades são tratadas influencia muito na fixação de uma boa autoestima para que ela tenha confiança de que é capaz de produzir e se desenvolver. Isso também influenciará o esforço que ela irá dedicar para no processo de aprendizagem. A criança nessa fase tem medo de ser criticada, de perder o amor dos pais por não se sentir merecedora do seu afeto. Nessa fase, se a criança tive dificuldades escolares, aos invés de castigarem, os pais deveriam participar mais próxima e pacientemente do processo de aprendizagem dos filhos. É muito comum também nessa idade as crianças terem medo que seus pais se separem, que eles morram ou que aconteça qualquer outro acontecimento ruim com eles.
No próximo texto falaremos sobre a fase genital, que foi dividida em quatro fases:
1 - a adolescência – Crise
psicossocial identidade versus confusão de papéis.
2 - A idade adulta jovem
– Crise da intimidade versus isolamento e a maturidade .
3 - A idade adulta: Crise
da generatividade versus estagnação.
4 - A etapa final da
maturidade do homem: Crise integridade do ego versus desesperança.
A entrada na adolescência e na vida adulta são momentos intensos
de emoções, novas conquistas, novos papéis e também novas responsabilidades. A
confiança no outro e em si mesmo adquiridas na infância serão fundamentais para
a vivência das demais etapas da vida sem grandes impedimentos trazidos por
excessos de medos e ansiedades.
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