Psicoterapias, Psicodiagnósticos,

Avaliação Psicológica e Neuropsicológica de crianças e adolescentes, Orientações a pais

“Todos nós temos uma força de vida que nos impulsiona à criatividade, ao aprendizado, ao trabalho, ao estabelecimento de bons vínculos uns com os outros e ao enfrentamento de dificuldades. Em alguns momentos da vida, porém, podemos passar por situações de maior fragilidade emocional ou mesmo por momentos de crises. Nessas situações, o vínculo terapêutico poderá ajudar no restabelecimento do equilíbrio emocional”

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Estresse na infância - o papel dos excessos de estímulos.

Indicação de leitura - Achei esse texto muito bom, então vou copiá-lo neste blog: Sobre os excessos que as crianças estão sendo expostas atualmente, e como isso gera estresse infantil. 

Por Jennifer Delgado Suárez, psicóloga
Quando nossos avós eram pequenos, eles tinham apenas um casaco de frio para o inverno. Apenas um! Naquela época de vacas magras, já era luxo ter um. Exatamente por isso a criançada cuidava dele como se fosse um tesouro precioso. Naquela época bastava a consciência de se ter o mínimo indispensável. E, acima de tudo, as crianças tinham consciência do valor e da importância de suas coisas.
Muita água correu por baixo da ponte, acabamos nos transformando em pessoas mais sofisticadas. Agora prezamos pelas várias opções e queremos que nossos filhos tenham tudo aquilo que desejarem, ou, caso seja possível, muito mais. Não percebemos que esse mimo excessivo ajuda a criar um ambiente propício para transtornos psicológicos.
De fato, foi demonstrado que o excesso de estresse durante a infância aumenta a probabilidade de que as crianças venham a desenvolver problemas psicológicos. Assim, uma criança sistemática pode ser empurrada para ativar um comportamento obsessivo. Uma criança sonhadora, sempre com a cabeça nas nuvens, pode perder a sua capacidade de concentração.
Neste sentido, Kim Payne, professor e conselheiro norte-americano, conduziu uma experiência interessante em que simplificou a vida de crianças diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Depois de apenas quatro meses, 68% destes pequeninos passaram a ser considerados clinicamente funcionais. Eles também mostraram um aumento de 37% em suas habilidades acadêmicas e cognitivas, um efeito que não poderia coincidir com a medicação prescrita para esta desordem, o Ritalin.
Estes resultados são, em parte, extremamente reveladores e, mais que isto, também são um pouco assustadores, porque nos fazem pensar se realmente estamos criando para nossos filhos um ambiente saudável, mental e emocionalmente.
O que estamos fazendo de errado e como podemos corrigir isto?
Quando o “muito” se transforma em “demais”?
No início de sua carreira, este professor trabalhou como voluntário em campos de refugiados, onde teve que lidar com crianças que sofrem de estresse pós-traumático. Payne constatou que essas crianças se mostravam nervosas, hiperativas e tremendamente ansiosas, como se pressentissem que algo de ruim fosse acontecer de uma hora para a outra. Elas também eram amedrontadas em excesso, temendo qualquer novidade, o desconhecido, como se tivessem perdido a curiosidade inata das crianças.
Anos mais tarde, Payne constatou que muitas das crianças que precisavam de sua ajuda mostravam os mesmos comportamentos que os pequenos que vinham de países em guerra. No entanto, o estranho é que estas crianças viviam na Inglaterra, abraçados por um ambiente completamente seguro. Qual a razão que os levava a exibir os sintomas típicos de estresse das crianças pós-traumáticas?
O professor pensa que as crianças em nossa sociedade, apesar de estarem seguras do ponto de vista físico, mentalmente vivem em um ambiente semelhante ao produzido em áreas de conflito armado, como se suas vidas estivessem sempre em perigo. A exposição à muitos estímulos provoca um estresse acumulado que obriga as crianças a desenvolverem estratégias que as façam se sentir mais seguras.
Na verdade, as crianças de hoje estão expostas a um fluxo constante de informações que não são capazes de processar. Elas são forçadas ao crescimento rápido, já que os adultos depositam muitas expectativas sobre elas, forçando-as a assumir papéis que realmente não condizem com a realidade infantil. Assim, o cérebro imaturo das crianças é incapaz de acompanhar o ritmo imposto pela nova educação, por conseguinte, um grande estresse ocorre, com as óbvias consequências negativas.
Os quatro pilares do excesso.
Como pais, nós normalmente queremos dar o melhor para os nossos filhos. E pensamos que, se o pouco é bom, o mais só pode ser melhor. Portanto, vamos implementar um modelo de paternidade superprotetora, nós forçamos os filhos a participar de uma infinidade de atividades que, em teoria, ajudam a preparar os pequenos para a vida.
Como se isso não fosse suficiente, nós enchemos seus quartos com livros, dispositivos e brinquedos. Na verdade, estima-se que as crianças ocidentais possuem, em média, 150 brinquedos. É demais, e quando é excessivo, as crianças ficam sobrecarregadas. Como resultado, elas brincam superficialmente, facilmente perdendo o interesse imediatista nos brinquedos e no ambiente, elas não são estimuladas a desenvolver a imaginação.
Payne ressalta que estes são os quatro pilares do excesso que forma a educação atual das crianças:
1 – Excesso de coisas.
2 – Excesso de opções.
3 – Excesso de informações.
4 – Excesso de rapidez.
Quando as crianças estão sobrecarregadas, elas não têm tempo para explorar, refletir e liberar tensões diárias. Muitas opções acabam corroendo sua liberdade e roubam a chance de se cansar, o que é elemento essencial no estímulo à criatividade e ao aprendizado pela descoberta.
Gradualmente, a sociedade foi corroendo as qualidades que tornam o período da infância algo mágico, tanto que alguns psicólogos se referem a esse fenômeno como a “guerra contra a infância”. Basta pensar que, nas últimas duas décadas, as crianças perderam uma média de 12 horas por semana de tempo livre. Mesmo as escolas e jardins de infância assumiram uma orientação mais acadêmica.
No entanto, um estudo realizado na Universidade do Texas revelou que quando as crianças brincam com esportes bem estruturados, elas se tornam adultos menos criativos, em comparação com jovens que tiveram mais tempo livre para criar suas próprias brincadeiras. Na verdade, os psicólogos têm notado que a maneira moderna de jogar gera ansiedade e depressão. Obviamente, não é apenas o jogo mais ou menos estruturado, mas também a falta de tempo.
Simplificar a infância.
A melhor maneira de proteger a infância das crianças é dizer “não” para as diretrizes que a sociedade pretende impor. É preciso deixar que as crianças sejam crianças, apenas isso. A melhor maneira de proteger o equilíbrio mental e emocional é educar as crianças na simplicidade. Para isso, é necessário:
– Não encher elas de atividades extracurriculares, que, em longo prazo, não vão ajudá-las em nada. – Deixe-lhes tempo livre para brincar, de preferência com outras crianças, ou com jogos que estimulem a criatividade, jogos não estruturados.
– Passar um tempo de qualidade com eles é o melhor presente que os pais podem dar.
– Criar um espaço tranquilo em suas vidas onde eles podem se refugiar do caos e aliviar o estresse diário.
– Garantir tempo suficiente de sono e descanso.
– Reduzir a quantidade de informações, certificando-se de que esta seja sempre compreensível e adequada à sua idade, o que envolve um uso mais racional da tecnologia.
– Simplifique o ambiente, apostando em menos brinquedos e certificando-se de que estes realmente estimulem a fantasia da criança.
– Reduzir as expectativas sobre o desempenho, deixe que elas sejam simplesmente crianças. Lembre-se que as crianças têm uma vida inteira pela frente até se tornarem adultos, entretanto, então, permita que elas vivam plenamente a infância.
Texto publicado em espanhol no site Rincón de la Psicología, traduzido e adaptado pela Revista Pazes.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Mudanças

As emoções que mais mobilizam os humanos são plenas de paradoxos. Um exemplo é desejo de mudanças:  desejada, vislumbrada como uma promessa de felicidade, mas que convive com o medo de lacunas que essas mudanças deixarão e de incertezas que podem trazer.
Algumas pessoas têm temperamento  mais impulsivo, não conseguem ficar muito tempo em uma situação insatisfatória, e correm o risco de mudar sempre que a angústia for excessiva, sem uma tentativa de luta para buscar uma acomodação possível para uma situação difícil. Outras pessoas são fortemente cautelosas e qualquer desejo ou necessidade de mudança causa paralisia.
Uso aqui a palavra situação, genérica, mas estamos falando de pessoas, de vidas, com seus casamentos, suas carreiras, suas viagens, seus vínculos e seus rompimentos. São situações importantes - importantes demais para serem abordadas sempre com impulsividade e também importantes demais para serem sempre postergadas.
Podemos pensar então que nos paradoxos é sempre pertinente a elaboração. Elaborar para buscar um pouco de equilíbrio, elaborar para conhecer as emoções plenamente, ou seja, com coragem para se ver vestido apenas de suas emoções. A realidade existe, mas no auto-conhecimento ela pode ser colocada no lugar de acessório, um adereço da vida.
Podemos imaginar como nos sentiríamos se nossos lugares fossem outros lugares e os Outros de nossas vidas fosse outros. Como seríamos? Como estaríamos nos sentindo?
É realmente muito difícil arcar com a incerteza sobre uma mudança ser ou não ser necessária. O que está em questão? Conceitos, valores, opressão? Quais são as necessidades que pedem por mudança? Orgulho? Vingança? Liberdade?
Há muitas perguntas e muitos fluxos de pensamentos que podem seguir livres buscando respostas para a necessidade de mudanças, de  reestruturação, de reorganização.
A realidade e os Outros presentes em nossa vida são sempre mobilizadores da força de vida de cada um de nós. Mas somos, nós, sozinhos, que criamos e recriamos nosso mundo mental e colocamos em ação a nossa energia para agir no mundo. Essa é a nossa liberdade. Também é a nossa angústia. É a verdadeira realidade de sermos sempre os protagonistas de nossas vidas.


quarta-feira, 27 de julho de 2016




Do que nós temos medo? Eles mudam muito (ou não!) ao longo da vida!

A vida é sempre cheia de aprendizados e desafios – ao longo dela fazemos vínculos com a família, amigos e com a sociedade. Aprendemos muito – desde coisas que nem nos damos conta do processo – como a andar, falar, brincar, e com situações que geralmente precisam mais de atenção, como o aprendizado da escrita, leitura, cálculos.
Aprendemos a ficar sozinhos, a fazer novos amigos, a fazer provas, testes, a lidar com os diferentes grupos de amigos.
Aprendemos a nos adaptar às diferentes situações da vida desde o berço até a velhice. Família. Estudo. Trabalho. Saúde. É certo que a vida normalmente traz muitos sentimentos de felicidade, alegria, satisfação. Mas não só de prazeres é feita essa caminhada. Sentimentos de insegurança, aflição, medo, tristeza também podem acompanhar os diferentes momentos ao longo da vida. Esses sentimentos que provocam angústia e que nos são difíceis de sentir, pois causam desprazer, desconforto, são normais – algumas vezes nos ajudam a ser mais prudentes, mais reflexivos, mas se eles nos paralisam e nos fazem sofrer em excesso eles merecem uma atenção especial – eles precisam ser mais explorados, elucidados, compreendidos, para que o seu impacto não seja muito negativo em nossas vidas.
Os medos mais comuns estão, claro, associado aos desafios que cada idade nos traz. Enquanto amadurecemos, vamos, simultaneamente, nos inquietando, às vezes mais, às vezes menos, até nos acomodarmos, com segurança,  a uma nova situação que antes era totalmente estranha para nós.  
Desconsiderando os excessos, ou  seja, aqueles grandes sofrimentos,  as aflições e situações difíceis de serem aliviadas,  vamos colocar primeiramente quais os medos que podemos considerar comuns na nossa vida – e os desafios a que eles estão relacionados. Para isso, vou usar conceitos de Eric Ericson – que, a a partir da Teoria do Desenvolvimento Psicosexual de Freud (o desenvolvimento da libido nas fases oral, anal, fálica latência e genital), escreveu sobre o que chamou de crises psicossociais – relacionando às difentes fases do desenvolvimento da libido a interação do indivíduo com a sociedade.
É claro que essas divisões nãos são rígidas, e a cada desafio e medos relacionados a eles em uma fase da vida são somados os medos que não foram elaborados das fases anteriores. Assim, podemos sim ser adultos sentindo os medos que começamos a sentir quando crianças, só que agora vivendo situações diferentes.
Nesse texto vamos explorar um pouco os medos das crianças. E para um próximo falaremos mais sobre os adolescentes e os adultos.

A fase oral descrita por Freud Ericson chama de Modalidade oral sensorial  e está relacionada à  Crise psicossocial confiança básica versus desconfiança.
Nessa fase inicial da vida, do nascimento até mais ou menos dois anos, quando os vínculos entre a mãe (ou quem faz a função materna) e o bebê são muito fortes, a mãe e o bebê formam uma díade, o bebê parte de uma estado de absoluta dependência da mãe, até mais ou menos os seis meses, e caminha para um dependência relativa, o grande desafio dessa dupla é a conseguir se separar – o bebê sofre, então, se fica sozinho, tem medo de não ser atendido, de ser abandonado. Pela relação com a mãe ele aprende a ter confiança no outro. A  mãe o ajuda a perceber que ela sai mas que ela volta, que ele pede, espera, e ela o atende. Por isso mesmo é uma fase tão importante da vida – a pessoa aprende a ter confiança no mundo, aprende a poder contar com o outro, a pedir ajuda, a esperar por ajuda e achar normal poder ser ajudado. Uma relação marcada por sofrimento em excesso – um bebê que é negligenciado, que é maltratado, pode sentir  o medo de não ser querido, de não poder contar com pessoas, ou seja, a pessoa, desde bebê, perde a confiança no outro, não só nessa fase, mas ao longe de toda a sua vida. É também comum as crianças dessa idade terem medo de situações que tragam excesso à sensorialidade: barulhos fortes, lugares agitados. A partir de mais menos oito meses podem começar a estranhar desconhecidos e querer sempre serem cuidados por pessoas de sua confiança apenas.

A seguir, a fase anal, que vai até mais ou menos os quatro anos. Eric Ericson a chama Modalidade Locomotora-genital e está relacionada  à  Crise psicossocial autonomia versus vergonha e dúvida. Nessa fase as crianças já começaram a andar, a falar, podem começar a construir diálogos, a comer sozinhas. É importante estimulá-las à autonomia, e não criticá-las nessa fase de experimentações, deixá-las sem se preocupar excessivamente com a limpeza na hora das refeições.  É uma fase muito importante pois começam também a tirar as fraldas – e é essencial que não se sintam envergonhadas ou criticadas nesse processo. Nessa fase em que a criança começa a interagir de uma forma mais ativa ela pode ter muitas dúvidas sobre como agir, do que os adultos esperam dela. Muitas vezes é estimulada a atitudes em algumas situações e impedidas de terem as mesmas atitudes em outras – A inconstância e a incoerência no cuidado com as crianças podem deixá-las confusas, inseguras, sentindo-se impedidas de serem criativas por terem medo de serem criticadas e expostas.

A fase fálica, que vai aproximadamente dos quatro aos seis anos,  também está para Ericson na Modalidade locomotora-genital e se relaciona à Crise Psicossocial  iniciativa versus culpa. É nessa fase que a criança vive mais intensamente o que ela quer mas não pode ter, o que ela deseja fazer mas é impedida por alguém. É uma fase em que o mundo se apresenta cheio de oportunidades, e a criança precisa aprender a abdicar do seu desejos, pois eles desejos são então limitados pelo outro, pelo pai, pela mãe, por outras figuras de autoridades, pelas regras da sociedade. Dependendo de como ela reagir em relação a esses impedimentos ela poderá se sentir culpada. Nessa fase em que a criança pode ser bastante agressiva ela também tem medo de ser machuda, de perder o seu lugar junto aos pais, pode sentir ciúmes e ter medo de ser rejeitado, de não ser aceito justamente porque já conhece o quanto pode ela também machucar o outro.

A fase de latência tem relação com Crise Psicossocial produção versus inferioridade.  Nessa idade é intensa a energia canalizada para o desenvolvimento do aprendizado, a fase escolar formal de inicia e a criança passa alguns anos incorporando uma grande quantidade de conteúdos e desenvolve muitas habilidades cognitivas. Diante desse desafio, a criança tem medo de fracassar. Tem medo de ir mal nas provas, de não conseguir responder ao que os pais e professores esperam dela. Da mesma forma que nas anteriores, a forma como suas facilidades e dificuldades são tratadas influencia muito na fixação de uma boa autoestima para que ela tenha confiança de que é capaz de produzir e se desenvolver. Isso também influenciará o esforço que ela irá dedicar para no processo de aprendizagem.  A criança nessa fase tem medo de ser criticada, de perder o amor dos pais por não se sentir merecedora do seu afeto. Nessa fase, se a criança tive dificuldades escolares, aos invés de castigarem, os pais deveriam participar mais próxima e pacientemente do processo de aprendizagem dos filhos. É muito comum também nessa idade as crianças terem medo que seus pais se separem, que eles morram ou que aconteça qualquer  outro acontecimento ruim com eles.

No próximo texto falaremos sobre a  fase genital, que foi dividida em quatro fases:
1 - a adolescência – Crise psicossocial identidade versus confusão de papéis.
2 - A idade adulta jovem – Crise da intimidade versus isolamento e a maturidade .
3 - A idade adulta: Crise da generatividade versus estagnação.
4 - A etapa final da maturidade do homem: Crise integridade do ego versus desesperança.


         A entrada na adolescência e na vida adulta são momentos intensos de emoções, novas conquistas, novos papéis e também novas responsabilidades. A confiança no outro e em si mesmo adquiridas na infância serão fundamentais para a vivência das demais etapas da vida sem grandes impedimentos trazidos por excessos de medos e ansiedades.
Psicossomática

Penso que a ideia de doenças psicossomáticas é para ser examinada e usada com cautela, pois é um termo usado em diferentes contextos, como o médico, o psicológico e também o do dia a dia das pessoas, já que é muito comum atualmente ouvirmos dizer que “essa dor é emocional”. Pode parecer simples supor que uma dor seja emocional, mas no estudo da psicossomática existem muitas perguntas e muitos caminhos para as respostas.
Por um lado, é fácil perceber que as doenças geram emoções.  A preocupação com a saúde geralmente provoca ansiedade, doenças graves podem gerar muita angústia e até mesmo culpa. Mas e as emoções, elas podem causar doenças? A expressão de emoções em sinais físicos ou doenças é comumente chamada de psicossomática. Mas explicar tudo por esse caminho pode ser arriscado e simplista. 
Pode ser irresistível relacionar, por exemplo, raiva com dores de estômago, preocupação com dores de cabeça, estresse com alergias. Mas precisamos lembrar que há uma integração tão plena entre corpo físico e o psíquico, formando o indivíduo, que pode ser muito reducionista buscar uma relação direta de causas entre emoções e doenças, ainda mais considerando que cada um de nós somos únicos e reagimos de forma diferente tanto em  relação aos sintomas físicos como aos emocionais.
Penso que o que mais influencia nessa troca entre as emoções e a saúde é o próprio indivíduo e o seu momento – ou seja, a pessoa com seu corpo físico e emocional e as suas condições de existência. Nessas condições de existência entrariam principalmente os seus relacionamentos familiares, sociais e de trabalho.
A psicologia, tão ampla em teorias e técnicas, também vê a psicossomática de formas diferentes, não necessariamente excludentes.  De um modo bem simples, há quem procure fazer uma relação direta entre determinada emoção e um sintoma físico específico, há a busca por uma simbologia para uma doença – assim, a doença seria a representação de conflitos e desejos. Também há também a explicação pela ação pulsional (libidinal) no corpo.
Nessa idéia da ação pulsional no corpo, seria a intensidade das emoções (de prazer ou desprazer) que geraria um excesso pulsional (de libido – ou pulsão de vida – ou uma ligação entre pulsões de vida e de agressividade) que estaria livre e precisaria ser extravasado de alguma forma. Uma das formas dessa energia transbordar seria a ação direta no corpo (provavelmente no órgão mais vulnerável do indivíduo, naquele momento). Podemos também chamar a pulsão de energia.
Quando falamos que o excesso de prazer ou desprazer pode gerar um excesso de energia que vai transbordar de alguma forma, dizemos que não só a dor, mas também a felicidade, podem influenciar na saúde das pessoas.
Nem sempre essa energia irá ter ação direta no corpo, ela também pode – e geralmente o faz, buscar outros caminhos. Ela pode buscar suporte em representações mentais do sujeito e ganhar o contorno dos medos, das idéias obsessivas, das histerias.
Uma ideia importante na psicossomática, quando buscamos uma explicação pelas pulsões, é a de que o homem, quanto mais consegue se aproximar de suas emoções, vivenciando-as plenamente, menos precisará lidar com os excessos de energia que buscam por caminhos e formam sintomas. Ou seja, precisamos aprender tanto sofrer como nos alegrar.
Além das emoções e pulsões, não podemos nos esquecer de que temos um corpo físico, com alguns sintomas muitas vezes inevitáveis.  Portanto, gosto de tomar especial cuidado com o perigo de se atribuir a qualquer pessoa a responsabilidade por ter determinada doença. Isso é importante principalmente em relação a doenças mais graves, que geram muito sofrimento.
Existe uma diferença muito grande entre o próprio individuo buscar uma explicação para a sua dor (uma busca legítima e construtiva de superação) e entre ouvir de outro – um familiar, psicólogo ou médico – dizer que ele fez a sua doença por determinados motivos. Essa é uma atitude dominadora de quem supõe saber sobre o outro mais do que realmente poderia saber.
É comum as pessoas se sentirem culpadas por estarem doentes, é compreensível que busquem explicações em emoções ou em situações de vida. E é claro que é importante para cada um construir um significado para a sua condição de estar com uma doença.
É justamente em momentos de fragilidade, como uma doença física, que as pessoas se veem desamparadas e buscam suporte emocional, como a psicoterapia, e se sentem motivadas a fazer um balanço da sua vida, uma análise de suas atitudes. É quando a vida se torna frágil que a pessoa se faz muitas perguntas, se questiona como teria sido a vida se suas escolhas tivessem sido outras.  O papel do psicólogo, nesse momento, sem conceitos reducionistas, é o de dar suporte emocional, ajudar a clarificar as situações, estar com o paciente nessa busca de sentido para a sua dor e de caminhos para sua existência.
Conflitos emocionais na gestação e no pós-parto

Esperar pelo nascimento de um bebê costuma ser a alegria de toda a família. Até naquelas situações em que a gravidez veio de repente, dando um susto na mamãe, papai e avós, a chegada de uma criança geralmente reaviva a esperança de todos. E em muitos casos a gestação é amplamente planejada e meticulosamente cuidada. O pré-natal ocupa a mente da mãe com exames cada vez mais meticulosos. Pode-se agendar o parto, tudo dentro de uma aparente tranqüilidade e estabilidade. Nada poderá atrapalhar os meses de felicidade que se espera após o nascimento do filho que está por vir. Dificuldades? Espera-se apenas por algumas noites mal dormidas, pelo choro do bebê, as dores causadas pelas cólicas e as fraldas espalhadas pela casa, que diminuem com o tempo, sendo aos poucos substituídas pelas mamadeiras de suco, a primeira papinha, os primeiros sorrisos, as primeiras gargalhadas.
Mas nem sempre é assim. Às vezes percebe-se que alguma coisa não está bem. E isso não estava nos planos. Se tudo foi tão planejado e esperado, por que a mãe está tão triste? Por que chora tanto? Às vezes não quer cuidar do bebê, sentindo-se impotente para isso; outras vezes fica obsessivamente apreensiva e preocupada e não deixa ninguém chegar perto da criança. Os momentos que deveriam ser de alegria tornam-se de apreensão e de preocupação. A família quer ajudar, mas geralmente não está preparada para isso, e acaba, mesmo sem perceber, fazendo cobranças para a mãe, que sofre ainda mais, pois percebe que está sendo julgada.
Em uma sociedade que cobra cada vez mais da mulher, que precisa ser eficiente em tudo, fica difícil desmistificar a idéia do instinto materno. Cobra-se das mulheres a absoluta auto-suficiência quando o assunto é ser mãe. Dificuldades emocionais na gravidez e futuramente, no puerpério (pós-parto), geram preconceitos, e é muito difícil para a mãe assumir que está tendo dificuldades para aceitar e conviver com essa fase de sua vida.
Longe de ser apenas um paraíso, a gravidez e o pós-parto são ricos de emoções intensas e contraditórias, nem sempre reconhecidas pelas mulheres. O amor, a alegria e a esperança podem conviver com o medo, a culpa, a ansiedade e a tristeza. Reconhecer e aceitar esses sentimentos, que são normais nessas fases, é essencial para preservar a saúde da mãe e do bebê.
Uma gestação pode propiciar mudanças intensas no mundo psíquico da mulher. Assim como a adolescência e o climatério (menopausa), é uma fase caracterizada por intensas transformações biológicas e emocionais. Ao ser mãe, a mulher muda seu papel social e familiar, mas nem sempre ela está pronta para essas mudanças. E o pior é que, sentindo culpa e com medo
de críticas, a gestante ou a mãe sofre sozinha, achando que é somente ela que tem dificuldades com a questão da maternidade.
Ela pode também sentir-se bastante assustada diante de seus sentimentos, já que geralmente o assunto depressão pós-parto surge na mídia na sua possível versão mais dramática possível: quando a mãe não resiste ao sofrimento emocional e maltrata o seu próprio filho.
Durante a gestação a mulher pode ter dúvidas em relação à sua capacidade materna, pode ter medo de morrer no parto, de abortar ou de estar gerando uma criança defeituosa. Pode ficar ansiosa se vai conseguir amamentar o bebê, e também pode ficar preocupada com a sua imagem corporal, e ter receio de não conseguir recuperar a forma de seu corpo.
O que as mulheres geralmente não sabem é que tudo isso, embora difícil, pode ser considerado normal. É normal a ambivalência dos sentimentos: querer e não querer o bebê (principalmente nos primeiros meses de gestação), gostar e não gostar de estar grávida, querer que ele nasça logo, mas ao mesmo tempo recear pelo momento do nascimento. Essa polaridade dos sentimentos, e geralmente com a negação dela, geram os conflitos emocionais, e podem culminar, por exemplo, em depressão pós-parto, com conseqüências graves para a saúde psíquica da mãe e para o seu vínculo com o bebê.
O pós-parto abrange o período de cerca de quarenta dias após o parto e é um período muito intenso de sentimentos. Há bastante euforia e alívio por ter passado pela experiência do parto e ter visto o filho nascer saudável, pode-se ter medo de não ser capaz de cuidar bem do bebê e não conseguir ser para ele uma boa mãe e também é possível os pais sentirem decepção com o filho recém-nascido, pelo fato de ser diferente do que se esperava – o filho imaginado e desejado é substituído pelo filho real.
Mas como reconhecer a depressão pós-parto e saber quando buscar ajuda?
No pós-parto podem ocorrer três situações: uma tristeza passageira chamada baby-blues, a depressão pós-parto e um estado mais intenso e mais grave, a psicose puerperal.
A situação mais comum é o baby-blues, que se inicia na primeira semana após o parto e pode durar de poucas horas a poucos dias, geralmente desaparecendo no primeiro mês. É uma situação comum, caracterizado por choro, humor instável e depressivo e ansiedade da mãe. O baby blues não deixa seqüelas negativas, geralmente se resolve pós si só e atinge a maioria das mulheres no pós-parto – entre 70 a 90% delas.
Até mesmo as mulheres que adotam filhos passam por esse período, portanto, não é apenas hormonal. O blues-puerperal pode ser considerado um modo de comunicação entre a mãe e o bebê. Acredita-se que seja o recém-nascido que desencadeia o baby-blues na mãe, como via de
comunicação com ela, e se essa tentativa de comunicação fracassar, todo o corpo dele passará a ser lugar da linguagem, via seus sintomas, como por exemplo, as cólicas do bebê, as dificuldades para dormir, a recusa da alimentação.
Já o diagnóstico da depressão pós-parto usualmente requer que a mulher apresente alterações de humor e também alteração de outros sintomas, como o sono, apetite, distúrbios psicomotores, fadiga e idéias suicidas. É um episódio depressivo que atinge aproximadamente 10 a 15% das mulheres que têm filhos, inicia-se geralmente entre a quarta e a oitava semana após o parto, mas os sintomas podem surgir em algum outro momento do primeiro ano de vida do bebê e podem durar por vários meses. É uma situação que traz muitas conseqüências, e a primeira delas é o próprio sofrimento da mulher, seguida das evidências crescentes que a depressão materna influencia negativamente o relacionamento mãe-bebê e o desenvolvimento cognitivo e social da criança
Se o baby-blue não traz consequências sérias, no outro extremo de gravidade está a psicose puerperal, que é um distúrbio psiquiátrico severo e raro, atingindo duas em cada 1000 parturientes, no qual junto aos sintomas depressivos acrescentam-se as ilusões e alucinações e as funções maternas são seriamente prejudicadas. E se o baby-blues resolve-se por si, a depressão pós-parto e a psicose puerperal não. Nesses casos, as mulheres precisam se desvencilhar do mito da eterna heroína e da mãe toda poderosa que sempre cuida de todos, para buscar ajuda profissional e ser, por sua vez, cuidada. A família, e dentro dela, o pai, pode ajudar bastante ao perceber a fragilidade emocional da gestante ou da mulher com o novo bebê e lhe dar a devida atenção e cuidado. Deve lembrar que após o parto ela merece tanta atenção quanto antes e deixar de lado críticas e cobranças diante de sua instabilidade e dificuldades emocionais.
Mesmo nos casos em que a mãe esteja muito bem e também cuidando de modo tranqüilo do bebê, ela precisa ter alguém que possa lhe servir de apoio, já que ela também está em um momento emocional bastante regredido. E se essa regressão emocional é o que permite a mãe atender às solicitações do filho, entender as suas necessidades, adequar o seu ritmo de sono ao dele e estar sempre pronta e sempre alerta para socorrê-lo, ela também precisa de quem lhe cuide, de quem lhe garanta conforto, proteção e harmonia nessa fase tão sensível e peculiar de sua vida.
Por que levar uma criança ao psicólogo?

Nem sempre é fácil perceber que uma criança esteja precisando de atendimento psicológico ou de uma avaliação psicológica. A avaliação psicológica consiste de um conjunto de algumas sessões (em geral, cinco a sete) com entrevistas com os pais, observação lúdica e aplicação de testes projetivos com a criança com o propósito de investigar seu estado emocional e indicar a necessidade ou não de psicoterapia ou de encaminhamento para outros profissionais.
Mesmo quando há evidências que a criança não esteja bem emocionalmente, pode ser difícil para os pais admitirem que precisam de ajuda de um psicólogo para entender e resolver situações que eles supõem ser sua obrigação saber lidar. Muitos se sentem confusos ou culpados por não conseguirem suprir naquele momento todas as necessidades emocionais do filho. Outros preferem esperar que os sintomas dos filhos passem, e muitas vezes passam, mas algumas vezes os sintomas, quando não se agravam, apenas mudam.
E realmente é difícil saber se o que a criança está sentindo é próprio da infância ou não. As crianças sentem medo, fantasiam, fazem birra, podem ficar agitadas e ser teimosas. Tudo isso dentro de um quadro de normalidade. É claro que tudo isso também é relativo, dependendo da idade da criança. Mas é preciso se perguntar se a criança não está sofrendo, se ela não está ficando ansiosa e angustiada, e, por ser criança, não estar conseguindo se expressar.
Geralmente a criança, em seus sintomas, mostra o que está acontecendo com a família. As crianças são muito sensíveis aos problemas familiares e sofrem pelos conflitos existentes entre as pessoas que ela ama.
Algumas vezes as reações da criança geram muito incômodo para os adultos, e então é fácil perceber que pode haver alguma coisa de errado. Entre essas reações: a agressividade, a impulsividade, a agitação excessiva. Esses sinais costumam também ser os primeiros a serem percebidos pela escola.
Outro sintoma que fica facilmente evidente é a dificuldade de aprendizado – a criança, mesmo com o desenvolvimento cognitivo normal, não consegue aprender de modo tranquilo. E dependendo de como a escola e família lidam com isso, muitas vezes virão outros sintomas, como a baixa autoestima e o desânimo.
Porém, alguns sinais dados pela criança podem passar despercebidos. Esses sinais são difíceis de serem percebidos porque eles são a não realização ou a recusa de alguma coisa. Assim, a criança que não brinca está tendo um sintoma muito importante. O brincar é próprio de um desenvolvimento infantil saudável, e a criança que não consegue alimentar uma fantasia no seu brincar, que não consegue fazer de conta, pode estar impedida disso por estar angustiada.
A criança pode também ter dificuldades para se alimentar, dificuldade para dormir. E se isso persistir por algumas semanas, é também uma solicitação por mais cuidado.
Existem muitas outras situações que podem mostrar uma necessidade de se olhar para criança com mais atenção e, talvez, buscar a ajuda de um psicólogo, como medos exagerados que impeçam ou dificultem o convívio familiar ou social, ou ansiedade excessiva quando ela está longe dos pais.
As crianças também expressam suas emoções por meio do corpo, tendo sintomas físicos – enurese, dificuldades para evacuar, muitas alergias. Os sintomas físicos sempre pedem a avaliação de um médico, mas muitas vezes a melhora emocional também se reflete na melhora da saúde do corpo.
É claro que não é agradável para os pais saberem que seus filhos estão sofrendo, até porque existe uma falta de conhecimento de que as crianças, desde bebês, podem sentir angústia. Mas uma notícia boa é que as crianças são muito sensíveis à ajuda que recebem. Elas absorvem a terapia com muita vontade de melhorar, e geralmente melhoram rápido. Quando uma criança está em terapia, os pais são pessoas muito importantes nesse processo, e muitas vezes basta os pais mudarem algumas pequenas coisas no seu modo de lidar com os filhos, seja estreitando os seus vínculos de afeto, seja deixando de sobrecarregar a criança com exigências ou preocupações exageradas, e ela, a criança, já dará sinais de alívio e melhora.

Quando procurar psicoterapia

Gostaria de falar de modo breve e simples sobre alguns motivos que geralmente levam as pessoas a buscar ajuda de um psicólogo.
Muitas situações difíceis podem justificar a busca de atendimento psicológico. O que é difícil ou não varia muito de pessoa para pessoa.
Alguns exemplos: podemos precisar de ajuda quando passamos por problemas de saúde, sejam mais graves, sejam menos graves; quando enfrentamos dificuldades em relacionamentos, por exemplo, com os filhos, com os pais ou com o cônjuge; quando passamos por situações de perda ou luto; quando enfrentamos mudanças - de emprego ou de residência – ou simplesmente quando uma escolha a ser feita gera uma ansiedade muito grande.
A terapia auxilia a encontrar um sentido para as situações que geram um sofrimento intenso e a buscar um significado para as dores que nos atingem.
Muitas vezes podemos apresentar sintomas sem conhecer suas causas. Ou seja, podemos estar sofrendo sem termos consciência de um possível problema emocional que possa causar os sintomas. Podemos ter alterações de humor, de sono ou de apetite (para mais ou para menos), que podem se agravar a ponto de precisarmos de ajuda. Podemos também, mesmo sem sofrimento emocional, começar a somatizar. A terapia também pode ajudar nessas situações.
A terapia ajuda a nos conhecermos melhor, a enfrentarmos com calma e segurança os desafios próprios da vida.
Podemos fazer terapia por um período breve, de alguns meses, buscando ajuda para enfrentar situações específicas, ou podemos, se desejarmos, nos manter em processo terapêutico por um período mais longo. Uma das razões para fazer terapia de longo prazo é a possibilidade de percorrer um processo de autoconhecimento e reestruturação psíquica.
Ao enfrentar conflitos de natureza emocional, podemos criar sintomas, que muitas podem ser superados por nós mesmos, com nossa própria força interna, e com a ajuda de amigos ou familiares. Os sintomas, quando permanecem, podem tornar a vida muito sofrida, dificultando o estudo, o trabalho, os relacionamentos, a vida social. Nessas situações a ajuda psicológica pode ser essencial, e em muitos casos também é essencial a ajuda médica.
Na terapia, a empatia entre o psicólogo e o paciente é muito importante. Assim, podemos conhecer mais de um psicólogo antes de começar propriamente uma psicoterapia. Importante também saber que somos livres para começar e encerrar o processo terapêutico. Um dos objetivos de uma terapia é levar o paciente a uma independência da terapia, para que ele consiga enfrentar de modo maduro e seguro as conquistas, as alegrias e as dores próprias da vida.